Uvas de Bordeaux. O Corte Bordalês
- Site SONOMA
- 21 de dez. de 2017
- 3 min de leitura

Bordeaux é a minha região de vinhos preferida, há muitas outras lindas e com vinhos deliciosos, mas nenhuma me encanta mais. A Borgonha, na minha opinião, tem uma história mais fascinante, mas na questão do vinho, Bordeaux vence com boa distância.
Provavelmente Bordeaux é a denominação mais celebrada dentre todas, e seu estilo de vinho o mais imitado. Suas uvas nativas estão entre as mais plantadas no mundo, e sem dúvida, a mais famosa é a Cabernet Sauvignon. Entretanto, três outras fascinantes variedades participam deste blend, são elas a Merlot, a Cabernet Franc e a Petit Verdot. E em escala bem menor tem a Malbec (mais comum em Saint-Émilion).
Cada uma dessas variedades tem um comportamento próprio, uma sutileza individual, e hoje vamos abordar alguns de seus aspectos.
Em Bordeaux, na margem esquerda do estuário do Gironde, região conhecida como Médoc, reina absolutamente o corte de Cabernet, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot, uvas adaptadas ao terroir local há séculos. No Novo Mundo essas uvas geralmente são utilizadas individualmente, sem cortes, "monovarietais", como gostam de chamar os especialistas.
Mas o sucesso de Bordeaux está no blend de três ou quatro variedades.
A Cabernet Sauvignon tem uma história curiosa, pois é o resultado do cruzamento - por polinização natural - da Cabernet Franc com a Sauvignon Blanc. Quando isso ocorreu ninguém sabe ao certo, mas faz no mínimo uns 300 anos.
É uma uva de colheita tardia, ou seja, seu amadurecimento é lento, atravessa todo o verão e só atinge o ponto ideal para vindima no início do outono. Essa uva dá vinhos com muito corpo, acidez, taninos, e tem bastante potencial de envelhecimento. A fórmula encontrada pelos produtores para domar sua força foi cortá-la com outras uvas mais leves e frutadas.
A Cabernet Franc é colhida no meio do verão, em média amadurece 40 dias antes da Cabernet Sauvignon, possui aroma condimentado, corpo leve, mais acidez que taninos, além de ser um dos ingrediente para a longevidade do blend bordalês. Pode ocupar até 60% do corte, mas em geral não passa dos 40%.
A Merlot é a uva mais plantada de Bordeaux, um dos motivos é porque seu vinho é fácil de agradar. Reina absoluta na margem direita do Gironde, nas colinas de Saint-Émilion. Sua colheita ocorre depois da Cabernet Franc e antes da Cabernet Sauvignon.
No Médoc, gera vinhos de corpo médio, pouca acidez, taninos redondos, acrescenta volume ao corte e aumenta os sabores frutados. Sua proporção pode chegar a 70% do blend.
A Petit Verdot, chamada de "tintureira", é usada em pequena porcentagem e carrega o vinho com muita cor violácea e adiciona aromas de ervas finas e tabaco. Potente, dificilmente ultrapassa os 5% do corte. Hoje em dia essa uva tem gerado vinhos grandiosos na Califórnia, na Espanha e na Austrália. Até mesmo em Bordeaux alguns produtores têm apostado no aumento de sua proporção no blend.
Bordeaux é assim, se faz vinho por lá como antigos boticários trabalhavam o perfume, numa espécie de alquimia onde a busca pela mistura perfeita é uma obsessão. Em nenhum outro local do mundo o blend é tão importante - talvez só em Champagne.
De um ano para outro a proporção pode variar, e muito, a depender do clima e do comportamento da uva individualmente. Cada enólogo tem uma receita, uma fórmula para compor o conjunto.
O paradoxo é que apesar de Bordeaux ter as uvas mais reproduzidas do mundo e de ter o estilo mais imitado pelos enólogos de outras regiões, o vinho bordalês é impossível de ser copiado, pois sua configuração de solo e clima, bem como sua localização é única e privilegiada.
Pra finalizar, me resta dizer "prove Bordeaux, arrisque-se por suas regiões, há em cada canto um terroir e vinho delicioso a ser descoberto!"
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